A ciência sabia, desde algumas décadas atrás, que um tipo muito especial de tecido adiposo estava presente em bebês e crianças de pouca idade. E a ciência também "sabia" que esse tipo de tecido ia desaparecendo do organismo com o tempo, sendo, portanto, uma regalia dos extremamente jovens. Esse último fato mudou, pois agora a ciência sabe uma nova verdade: adultos apresentam, sim, certa quantidade de gordura marrom.
.A importância da gordura maarrom está basicamente em suas mitocôndrias. Nelas existem complexos protéicos de conversão de energia um pouco diferentes: o gradiente de prótons do espaço transmembrânico mitocondrial não é utlilizado para sintetizar ATP (ADP+P), mas sim para transformar essa energia em energia térmica. Desse modo, quantidades significativas de gordura marrom significam uma fonte extra de termogênese, o que, para os bebês, seria de grande valia.
.O último estudo avaliado veio trazer a consolidação nessa nova visão. Analisou-se um grande número de indivíduos para se verificar a presença ou não de gordura marrom em áreas determinadas. Essa foi uma questão importante: a gordura marrom, nos adultos, não se encontra localizada nos mesmos locais em que está presente nos recém-nascidos e bebês. Nos adultos, as análises mostraram as maiores concentrações desse tipo de tecido na área supra-clavicular e supero-medial do tronco, nas áreas próximas da base do pescoço.
.A presença de gordura marrom foi constatada de dois modos: retirada por biópsias e análises bioquímicas. No caso, os exames não foram realizados unicamente com o intuito de se verficiar a presença de gordura marrom: aproveitaram-se pacientes encaminhados para exames com outras finalidades. Isso foi possível pelo aparelho utilizado: um PET-scan, que é um tomógrafo emissor de prótons. Utilizando-se um marcador similar á glicose (absorvido pelo tecido adiposo), pode-se ver que a gordura marrom, de jeito algum, está completamente ausente em adultos.
.Vários índices foram avaliados para se entender melhor o padrão de distribuição em diferentes grupos populacionais. Pode-se verificar, assim, que quanto mais velhas, menos quantidade de gordura marrom as pessoas têm. O mesmo efeito valeu para a quantidade de gordura branca: de maneira geral, quanto maior o IMC (que reflete em grande parte a quantidade de gordura branca), menos gordura marrom era encontrada. Por último, pode-se destacar um fato interessante: a relação da quantidade de gordura marrom com o uso de beta-bloqueadores. A tese de explicação para o fato foi proposta, mais uma vez, por Gabriel Carvalho: uma vez que os beta-bloqueadores agem inibindo a ação do sistema nervoso simpático (eles são tipicamente usados para regular pressões sanguíneas, diminuindo o tônus dos vasos - menos ação simpática, menos tônus, menor resistência, menor pressão), a gordura marrom estaria relacionada com os beta-bloqueadores á medida que a própria função da gordura marrom -fornecimento de calor - é regulada pelo simpático, agora inibido.
Estêvão Cubas
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