O Mal de Alzheimer
por Estevão Cubas (acadêmico de Medicina da UnB)
Conhecido por alguns como “Mal do século” ou “epidemia silenciosa”, a doença de Alzheimer foi documentada pela primeira vez em 1906, pelo médico Louis Alzheimer. Tendo como maior fator de ocorrência a idade avançada, o Mal de Alzheimer se apresenta crítico á sociedade atual por ser altamente debilitante, não ter cura e contar com uma população cada vez mais envelhecida. Com estimativas de passar dos atuais cerca de 20 milhões de pacientes afetados hoje em dia para 34 milhões em 2025, a doença apresenta desafios e promessas de remédios que possam evitar seu aparecimento e retardar sua evolução.
O Mal de Alzheimer é característico por trazer diminuição de memória (especialmente da recente), dificuldade de raciocínio lógico, temporal e espacial, e diversas alterações comportamentais. Os remédios atualmente disponíveis se limitam, basicamente, a retardar o agravamento do quadro, atuando por mecanismos bioquímicos que visam a uma melhor atuação dos neurônios ainda existentes.
A manifestação da doença ocorre devido a uma atrofia do córtex cerebral, por assim dizer. Há morte generalizada de neurônios do córtex, e há também presença de alterações características de estruturas do lobo temporal, como o hipocampo e a amígdala (estrutura do Sistema Nervoso Central, não relacionada com as tonsilas faríngeas, as “amígdalas” da garganta). O acometimento neuronal é evidenciada pelas duas alterações características da doença de Alzheimer: placas neuríticas e novelos neurofibrilares.
As placas neuríticas são corpúsculos condensados de proteína: a proteína Beta Amilóide A/4. Essas condensações protéicas ficam no centro de anéis formados por restos de neurônios anormais. A beta amilóide é derivada de uma proteína transmembranácea neuronal, a PPA (Precursora da Proteína beta Amilóide). Encontrada majoritariamente em terminações nervosas, a PPA sofre alterações que culminam no seu acúmulo em grânulos protéicos insolúveis, sendo estes os constituintes dos centros das placas neuríticas.
Os novelos neurofibrilares, por sua vez, são alterações no citoplasma dos neurônios corticais, atingindo especialmente o lobo temporal. Nos neurônios piramidais, devido á disposição citoplasmática característica desses neurônios, os novelos se apresentam com um formato de “chama de vela”. A constituição dos novelos neurofibrilares são emaranhados de proteína Tau e microtúbulos. A função da proteína Tau é justamente estabilizar essas estruturas axoplasmáticas neuronais, mas devido a uma fosforilação excessiva a proteína perde sua função estabilizadora e acaba originando os novelos.
Que há lesões características da Doença de Alzheimer, disso não há dúvida. A questão, porém, é o significado dessas alterações. Causa ou conseqüência? As placas neuríticas e os enovelamentos neurofibrilares são o fator que traz a morte dos neurônios próximos, os são o próprio resultado da morte neuronal, por outros fatores? Não há certeza. Não está claro se o foco deve estar em combater a formação dessas estruturas (assumindo que são elas que vão causar mais mortes neuronais), ou se seu aparecimento é um simples sinal de que a morte ou lesão já ocorreu.
Pode parecer uma questão trivial, filosófica – ao menos para aqueles de nós que ainda temos uma imensa carga de pouco conhecimento. Mas não é. Essa questão é justamente o que define os rumos que serão tomados pelas pesquisas. Toda a problemática bioquímica enzimática e de aglomeração protéica e de excessos fosfolirativos é que dão as cartas de onde e como a solução aparecerá.
A acetil colina
A acetilcolina é o neurotransmissor mais afetado no Mal de Alzheimer. Envolvido nos processos de transmissão nervosa no SNC. Sintetizada pela colina acetil-transferase, a partir de Colina e de Acetil Co-A, a acetilcolina se encontra extremamente reduzida nos cérebros de pacientes portadores de mal de Alzheimer, estando a atividade da colina acetil-transferase diminuída de 40 a 90%. Além disso, a própria disponibilidade de Acetil-Coa também se encontra alterada. Neuropeptídeos (somatostatina), sistemas catecolaminérgicos e serotoninérgicos e aminoácidos como GABA e glutamanto também estão afetados.
Nota do MHL:
Falta neste texto falar dos oligômeros solúveis de PPA, que são a novidade de uns anos para cá.
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