22 de mar. de 2009

Artigo 1 de Tópicos em Bioquímica

Coluna do Estêvão

Ocorreu, finalmente, a primeira discussão do primeiro artigo de tópicos. Os novos alunos se reuniram das 6 ás 8 da noite ao redor da longa mesa no Laboratório de Bioquímica e Biofísica, aquele mesmo, ao lado do qual saíam as notas do primeiro semestre das aulas de Biobio.
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A primeira aula de discussão sobre artigos científicos com o professor MHL começou bem: o artigo, um pouco mais simples do que a maioria que está por vir, serviu para orientar os recém-iniciados quanto á melhor maneira de se analisar um artigo, de maneira a poder criticá-lo e absorver o que houver de melhor de seu conteúdo.
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E quais são um passos quando se tem um artigo em mãos? Desde um primeiro momento, os alunos de Tópicos já aprendem a importância de ver o autor do artigo, bem como de qual instituição esse autor é. Desse modo, pode-se, por exemplo, determinar e localizar outros artigos já publicados pelo mesmo autor, e ter-se uma série de artigos com a mesma linha de pesquisa. Aparece, então, a importância das referências bibliográficas presentes no artigo, num mundo caracterizado por uma intensa rede de intertextualidade e citações.
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E o artigo, do que tratava, afinal? O assunto foi a análise de ratos de laboratório Virgin Wistar, sendo analisados espécimes cujas genitoras estiveram, durante a gravidez, em estado de subnutrição (30% da quantidade de alimentos ingerida por livre e espontânea vontade). Foi analisado, nesses ratinhos, o comportamento sedentário desenvolvido pelos vindos de mães subnutridas, avaliando o efeito desse fator pré-natal na vida pós-natal do espécime: fenômeno conhecido como programação fetal.
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Já sabia-se, na época de publicação do artigo (2003), que a descendência de mães que estiveram subnutridas durante a gestação apresentava índices elevados de obesidade e sedentarismo. A pergunta que o artigo tentou responder foi: por quê? Por que obesidade nessa geração de ratinhos? Analisando parâmetros simples, como a distância percorrida por cada indivíduo e as calorias por quilo ingeridas na alimentação, foi possível responder a pergunta-objetivo do artigo: a causa da obesidade era comportamental. Os ratinhos eram mais obesos porque eram mais sedentários. Além da questão do estado nutricional materno, que era crucial na situação analisada, a presença de dieta hipercalórica também agravava a situação de obesidade e sedentarismo, não sendo, contudo, essencial: maior obesidade e sedentarismo também ocorriam nos ratos de dieta normal.
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As críticas, de maneira geral, disseram respeito a três assuntos principais. O primeiro foi que um dado importante não constou no artigo: uma tabela com o peso por idade dos indivíduos. Embora essa informação estivesse presente (devido aos gráficos de variação de peso por variação de tempo e dietas informadas em kcal/kg), o grupo chegou á conclusão de que seria melhor para a compreensão do artigo a presença dessa simples tabela.
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Outra questão levantada foi se o estudo conseguiu isolar os fatores pré-natais: não haveria também um pós-natal que escapou do crivo dos autores, o fator de amamentação materna, e sua interação com o filhote? A questão foi levantada pela primeira vez nos últimos 5 anos de reuniões de Tópicos, sendo o possível viés identificado por Gabriel Carvalho.
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Finalmente, levantou-se a pergunta: o fator pré-natal que a subnutrição trazia era genético ou comportamental? Seria só o sedentarismo, ou haveria mudança nas pares de base do material genético dos indivíduos envolvidos? Embora a condição de gestação tenha trazido uma alteração de interação com o ambiente, decorrente, portanto, do modo de expressão protéica a partir do material genético, considerou-se a possibilidade de isso não significar simplesmente sedentarismo no pós-natal, mas também uma mutação propriamente dita.
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A conclusão resumida de todos, artigo, alunos e professor, ao final da reunião, foi uma: ratinhos sedentários são, sim, mais gordos, programação fetal presente ou não.
Estêvão Cubas

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